Esse trabalho visa apresentar aos leitores os desafios enfrentados na escrita da História Cultural em busca do conhecimento. Procura captar os imaginários dos gregos antigos sobre o mito sacrificial de Ifigênia, filha do rei Agamêmnon, que dentre outras versões, oportunizaria pelo sacrifício 'voluntário/involuntário', as naus dos gregos partirem para se vingarem dos troianos que raptaram a bela Helena. Até esse ponto do relato o mito se refere aos acontecimentos de Tróia conhecidos do público em geral por causa de Homero, mas a partir das naus terem zarpado. Então, demonstra as vertentes do mito e os sentidos dos ritos sacrificiais na comunidade, que a ligam as suas funções de casamento e continuidade, num contexto de 'vida ou morte', premente, num diálogo com a Antropologia. Compreendendo o texto em 'Ifigênia em Áulis', ou a versão teatral de Eurípides, situa o mito nos acontecimentos antecedentes as naus partirem. E apresenta o tom realista, crítico e reflexivo na arte da tragédia do final do século V a. C., cuja subjetividade denota o contexto sacrificial voluntário e a elaboração heróica de uma 'menina' assistida por cidadãos, que se submetiam a guerra pela cidade, num momento em que as perdas sofridas e a confiabilidade democrática de Atenas conduzida por demagogos estavam sendo questionadas na sofística. Nessa pesquisa, se evidencia uma historiadora viajante, sendo levada pelos 'ventos de narrativas', dialeticamente, concebidas entre o passado mais longínquo dos ciclos épicos ao presente dos suportes, que novamente relatam o mito de Ifigênia, no ciclo da vida cotidiana das pinturas de vasos ou pelos relevos que o encenam. Mediante as dificuldades de acesso ao passado vem apresentar fontes móveis no percurso de suas indagações, desse modo, as imagens teatrais, 'literárias' e visuais da pesquisa não visam apenas a oportunizar uma fruição estética, mas sim, demonstrar a diversidade das significações e interlocuções do mito grego antigo na busca pelo seu universo simbólico.