Em Marcha contra o Saber: O Golpe Militar de 1964 e o AI-5 na Universidade de São Paulo, Carlos Giannazi remonta com argúcia um quebra-cabeça cujas peças estiveram em conflituoso embate, gerando uma obra precisa e profundamente necessária para o entendimento do impacto da ditadura militar na vida universitária. Com prefácio de Vladimir Safatle, filósofo, professor livre-docente da USP e colunista do jornal Folha de S.Paulo, este livro, fruto de uma pesquisa exaustiva, concede ao leitor a oportunidade de conhecer o desenrolar de uma situação vivida durante o período militar numa das mais importantes universidades do país. Após o decreto do AI-5 em dezembro de 1968, ato que concedeu plenos poderes ao governo brasileiro para investigar e punir aqueles que se manifestassem contrariamente à ordem vigente, a Universidade de São Paulo sofreu duramente com a arbitrariedade dos militares. Impondo uma política arbitrária de cassações, afastamentos e destruição de carreiras, ela foi responsável direta pelo descalabro que ainda sentimos no setor educacional, com suas dificuldades conhecidas. Foram 20 anos de atraso na vida acadêmica, com a implementação de práticas, leis e políticas que ainda hoje interferem nas universidades de forma irracional, em especial nesta que é a maior universidade da América Latina, a saber, a Universidade de São Paulo. Resgatando histórias, memórias e indicando responsáveis, Giannazi ajuda a impedir que o arbítrio caia no esquecimento e que seus efeitos continuem passando em silêncio. Este é, sem dúvida, um trabalho fundamental, por permitir a compreensão da maneira com que a ditadura transformou os setores da educação nacional em inimigo privilegiado. A leitura atenta desse instigante livro aponta que o saber, acima de tudo, configura-se como um elemento da vida social intimamente ligado ao poder.